domingo, 20 de dezembro de 2009

A dificil arte de... viver

E depois de muitos meses eu tento voltar a escrever. Eu cheguei a esboçar várias linhas, mas eu decidi não postar nadica de nada, foi um periodo tão complicado da minha vida que achei que se publicasse minhas impressões dos momentos seria interditado pela familia, seriamente. Viajei. Olha, mas eu viajei muito, foram 24 países em 12 meses, alguns lugares dos meus sonhos, outros que eu nunca sonharia em conhecer, mas todos me trazem lembranças para o resto da minha vida. Não vou nem entrar no mérito da questão cultural, hoje tenho absoluta certeza de que a experiência de viajar DEVE ser vivenciada por todos, é impressionante como a visão de mundo muda completamente, e principalmente a noção de ser-humano, uma das personagens mais presentes nessas minhas andanças por tudo o que é canto.
Na primeira parte dessa minha aventura eu tive que lidar com a saudade de casa, a dificuldade na adaptação, e o tédio. Sim, meus amigos pensam que minha vida era só aventura e glamour, mas no final das contas eu tinha que trabalhar, e muito, administrar dinheiro (muito mal por sinal, não tenho talento para isso), e uma das tarefas mais dificeis, lidar com as pessoas do meu convivio. Na segunda parte, os últimos meses, foram bem diferentes. Confesso que criei uma expectativa enorme, as viagens seriam incriveis, os lugares infinitamente mais ricos culturalmente do que os meus primeiros 6 meses, e as pessoas... Nossa, um capitulo a parte.
Aproveitei ao máximo cada momento, vi tudo o que queria ver, fiz quase tudo o que queria fazer, foram dias de loucura e risco, noites ensolaradas, frio do Báltico terminado com o calor escaldante do deserto, passagens pelo submundo, mas momentos de luxo nos lucares mais sofisticados do mundo. Apesar das minhas crises, nada que me fizesse me descabelar, muito pelo contrário, eu sempre mantive o penteado impecável, eu tive bastante lucidez para sobreviver a alguns dos momentos mais "barra pesada" da minha vida. Contando ninguém acredita, então eu prefiro nem "destrinchar" muito, o que passou passou, e no final das contas em momento algum eu fui traira, ou baixei demais a minha cabeça para os infelizes que andam por aí, ou deixei de escutar e dar meu ombro para os que estavam mais perdidos do que eu. Essa coisa de sagitariano metade homem, metade animal, me dá um baita trabalho... Eu quero viver a vida com sentido, e sou cheio de valores, e tenho essa incapacidade de "fazer jogos", simplesmente eu não consigo, e isso não tem nada a ver com a minha qualidade de ser-humano, acho até que tem muito mais a ver com orgulho, sei lá... Mas por outro lado sou aquele que chega aos 29 anos estabelecendo metas para antes dos 30, como se ultrapassar a "linha dos 30" fosse minha última chance de estar e ser o que eu quero nessa vida.
Me exijo demais, e isso acabou me prejudicando mais uma vez nessa minha experiência, e me fez voltar para casa trazendo, além das lembranças incriveis, uma certa mágoa e frustração. Passando o tempo vou me reencontrando, lembrando que a vida não é uma prova de escola, você não "passa de ano", nem é reprovado, simplesmente passa pelos momentos, às vezes muito atento, às vezes atento até demais, não necessariamente algo produtivo, às vezes completamente relaxado...
Volto para casa, e continuo o mesmo menino sonhador, mas sem deixar de ser o homem que estabelece metas rigorosas, mas vou tentando "separar as estações", acho que foi a maior lição que aprendi nesses últimos 12 meses. É possivel sim sobreviver no meio dos leões, e não tem outro jeito, as contas devem ser pagas, mas muitas coisas que passam pelas nossas cabeças devem permanecer por lá, porque fazer do mundo um ringue de porradaria é uma grande perda de tempo.
Ainda me adapto, ainda tenho pesadelos, não me arrependo de absolutamente nada, porque de nada adianta, voltar no tempo eu não posso, então é esperar que eu coloque minhas lições em prática, e me lembre que apesar de parecer lindo, muitos atos de pretenso heroismo são como "socar ponta de facas".
Minhas fotos contam um pouco da minha aventura, e impressionam os amigos, mas além de uma bela quilometragem, eu trago as memórias que vão me levar aos 30 anos como uma pessoa diferente, mesmo que eu não esteja nem perto de onde queira estar.
Mas sabe o que é gostoso demais, é saber que foram somente 12 meses, e que novas aventuras ainda estão por vir. Acho que minha meta, e isso acaba me ajudando a relaxar minha mente acelerada, é viver pelo menos 01 grande aventura por década, uma grande reviravolta que vai bagunçar todo o meu mundo, e me fazer reconstruir tudo de novo. Acho que isso ajuda a colocar nossos pés no chão, e não viver só por viver... Porque isso, eu não quero.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Madrugada de friozinho gostoso, copa da minha cozinha, o indefectivel cigarrinho numa mão e uma caneta na outra. Voltei mais cedo do navio, o que acabou sendo ótimo, eu realmente precisava descansar depois dos 6 meses mais longos da minha vida!
Aguardo ansioso (e surpreso) pela data e navio do próximo contrato. Aliás, surpresos estão todos ao meu redor, porque nunca imaginaram que eu iria querer voltar. Nem eu, pra dizer bem a verdade.
Dificil explicar e não ser mal-interpretado, mas depois de reconhecer todos os sabores da minha vida aqui, estranhamente me deparei com o sentimento de não pertencer mais a essa vida, o que pode soar incrivelmente ingrato e egoísta, o que em partes até não deixa de ser...
Estando de volta me dei conta de que a viagem foi, definitivamente, abrir a "Caixa de Pandora", ou então "Tomar a pilula vermelha"... Me conhecendo bem sei que, apesar dos riscos, não tenho como voltar atrás, não aprendi a lidar com arrependimentos do que deixei de fazer. E ciente de que a nova experiência me trará novos desafios, muito diferentes da primeira vez, sinto-me meio perdido, mas ao mesmo tempo decidido e sereno.
A jornada de auto-conhecimento torna-se algo maior e inesperado. Em algum momento pego um avião para um lugar qualquer, mas sinto que me lanço (ou sou lançado) em decisões que mudarão tudo, e que podem ser a realização da minha vida (ou aparentemente) mas tudo envolve riscos, inclusive o de acordar um belo dia e me sentir absolutamente em casa, longe de casa...

segunda-feira, 16 de março de 2009

SURPRIIISE!

E por essa quem esperava? Aguardo meu voo para Sampa, sinto-me renovado, realizado, ainda meio em choque com os ultimos acontecimentos. Ha 4 dias me sentia quase sufocado de tanto tedio, e contando os segundos, sinal claro de que estava vivendo no automatico, e vida sem diversao pra mim simplesmente e um crime!
Mudanca de navio, passagem pela terrinha, viagem pela Europa! A mudanca chacoalha minha vida, da uma virada na trama, me joga no desconhecido, porem familiar. Deixo mais uma vez meus amigos para tras, mas me sinto muito bem acompanhado.
Evito a previsao e decido meu futuro, positivo de que o melhor me aguarda, porque quero que seja assim, e ponto!
O trabalho nem e mais tao pesado assim, as atitudes babacas cada vez me afetam menos, a saudade se transforma em algo novo, torna-se algo doce.
Aguardo o voo para o meu proximo passo, e me sinto pronto para isso.
O Grandeur of the Seas ficou para o passado, mas JAMAIS sera esquecido, arrependimentos zero, ate uma saudade e um carinho inesperado por esse pai, que me acolheu, mas tambem me ensinou muito, muitas vezes com mao pesada, mas nada que eu nao pudesse aguentar.
Splendour of the Seas, here I go!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

7 semanas

Depois de amanha completo 4 meses de navio, 4 dos mais longos e intensos da minha vida, diga-se de passagem, e novas "caraminholas" passam pela minha cabeca. Em 2 meses volto pra casa, e sorrio sempre que penso nisso, mas sera que pelas razoes que tenho me convencido a acreditar, ou sera que estou tao "saltitante" simplesmente porque quero muito sair daqui?
Nao sei se internalizei muito as coisas pelas quais passei por aqui e acabei "traumatizando" essa que, de acordo com meus planos, seria uma experiencia riquissima na minha vida. Em parte acredito que sim, me concentrei demais no conceito do que isso significa para a minha vida, mas acaba que vim mais perdido do que "cego em tiroteiro".
Fugir e o que me ocorre de imediato, sair de casa, provar para mim, provar para os outros, etc. Dinheiro? Bobagem, nunca liguei para isso! Mas agora me veio a cabeca, o que eu estou realmente levando para casa? O que esperar da minha volta?
Missao cumprida, orgulho? Isso passa rapido. Respeito por parte da familia? Sei que basta um pequeno deslize para que o meu "grande feito" seja esquecido, fora o tempo, que se encarrega disso.
Na verdade eu tenho receio de voltar a "estaca zero", voltar a ser o mesmo Max de antes, deslocado no ambiente familiar, nos empregos estupidos, nos estudos indecisos, na vida amorosa de merda...
Confesso que me vejo voltando como o bom menino, o Max melhorado e exemplar para a familia, o cara serio para casar, mas sera que esse "roteiro" nao e muito raso e na verdade nao to simplesmente vibrando num filme previsivel, daqueles bem "pipoca"?
Aqui, sem duvidas, aprendi a sobreviver por minha conta, encontrei e me adapto a independencia que sempre quis, mas encontro o fantasma imprevisivel, o que eu sou de verdade?
Cheguei a pensar que nao sou tao "espirito livre" como pensava, e que, afinal, ironicamente, sou o "garoto familia pra casar".
Ok, sinto falta de casa, mas nao dos problemas que temos, na verdade sinto falta da liberdade que tenho em "casa", que fica evidente pelo ritmo puxado de vida que venho levando por aqui. Tenho receio de perder essa "liberdade" assim que terminar a "lua-de-mel" da minha volta.
Agora me concentro em terminar o que vim fazer por aqui, e definitivamente nao quero mais navios na minha vida, mas me passa agora pela cabeca que tenho muito trabalho quando voltar para casa.
Sei que nao pertenco a isso aqui, nao e pra mim e ponto. Mas afinal, aonde eu pertenco?

sábado, 31 de janeiro de 2009

"Sobrevivido"

Momentos dificeis, justo quando comecava a achar que tudo estava perfeitamente bem, na medida do possivel. O corpo se habituou ao ritmo puxado do trabalho, a mente se ajustou a sintonia do lugar, ate a relacao com as pessoas melhorou muito, finalmente parecemos falar a mesma lingua. Passada a metade do caminho chego a sentir o gostinho de estar em casa novamente, um dos meus maiores incentivos, obviamente adicionado ao sabor da vitoria de alcancar minha meta terminando esta jornada.
A pessoa com melhor me dava, meu anjinho pirado, vai embora em 2 dias. Fico ja com saudades, mas tambem muito orgulhoso. Ontem revimos alguns dos nossos momentos fotografados e me bateu um certo alivio, afinal tambem tive momentos incriveis por aqui.
Passei por muita dor, me senti fraco, ridiculo, completamente desamparado, me vi humano como ha muito tempo nao me via. Dias passaram e estou mais fortalecido, encaros os desafios com um Hercules, e depois de matar os leos que tenho que matar, acendo meu cigarro, fecho os olhos e sorrio, menos um desafio, mais uma vitoria.
O tempo aqui passa diferente, voce encontra pessoas que passam por voce por passar, outras que caminham lado-a-lado, e tambem aqueles que querem passar por cima de voce.
E por aqui as dificuldades sao tao intensas quanto os bons momentos, aproveitados ao maximo, como minha ultima ida ao Mexico (thanks Mabeli, Camila e Richard).
Para finalizar, depois que isso tudo acabar quero minha vida de volta, mas o que gostinho de quem viu o inferno e o paraiso bem de pertinho.
Ah, eu exagero mesmo, e ponto.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Romanticos

Escuto Coldplay "mela cueca" e reviso meus amores num dia calado que parece 1 mes. Ja tive incontaveis amantes, que me fizeram sentir lindo e sedutor por 1 noite, as vezes asqueroso tambem, mas tambem amores que se tornaram "quaisquer" em 1 semana, e aqueles poucos que me marcaram de verdade, inclusive na pele.
Minha natureza sempre repeliu os amores, sou um aventureiro apressado, desconfiado e louco por prazeres imediatos e intensos, muito ansioso para esperar pelo simples prazer de um afago caloroso e familiar de um companheiro, acabo ficando somente com o "mis en scene" (perdao pelo frances talvez equivocado) de estranhos, seguido do inevitavel e estranhamente familiar vazio.
Os amantes imediatos me "alimentavam" como sanduiche apressado encostado em balcao de lanchonete, sinto falta do "sentar a mesa", sentir todos os aromas, tentar adivinhar os ingredientes de cada comida, aceitar ou nao os temperos que nao me apetecem, ser surpreendido, acrescentar meus sabores, sentir o soninho gostoso chegando, rir sozinho dos meus exageros, e repetir o quanto quiser, sem culpa.
Assumo meu brega, afinal nao sou tao descolado assim, me pego imaginando as oportunidades que perdi, mas tambem fantasio que "o melhor esta por vir", assim como temo estupidamente ja ser tarde demais para mim.
Aos 28 anos me acostumei a ficar sozinho, mas logico que fica sempre faltando algo, fico imaginando um rosto, um corpo, o abraco, o calor, fantasiando que alguem esta reservado para mim, por enquanto fervendo por ai, ou quem sabe, nos momentos calados como este, tentando imaginar um rosto, o abraco e o calor, que sao bem parecidos com o meu.