quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Aprendendo a domar cobras

Depois de uma troca de inspirados depoimentos orkuticos com minha amiga DQ fiquei pensando nos basicos 2 tipos de pessoas que existem no mundo: os possuidores de "luz propria" e os que necessitam da "luz alheia" para sobreviver.

Retifico que nao quero AT ALL entrar no campo de religiao, auto-ajuda ou fisica, talvez um pouco de cada coisa, mas defendendo basicamente o meu ponto-de-vista, baseado na minha percepcao dos fatos, e como isso aqui ficou muito tecnico!

No meu antigo mundinho eu ja tinha superado pelo menos as minhas insegurancas basicas. Vamos colocar assim, ao menos eu sabia que tipo de merda eu era, e que existem diferentes tipos de cores, texturas e cheiros. E VIVA aos bons exemplos que realmente fixam na nossa cabeca!

Nesse novo mundinho pelo qual transito atualmente minhas antigas insegurancas vem a tona, e me sinto meio "like a virgen" em alguns momentos, e pelo menos foi assim no comeco.

Quando voce ingressa num business como esse tem a impressao de que vai encontrar pessoas com o seu perfil, espiritos livres, gente que fugiu do considerado "mundo real" para seguir o seu proprio rumo, dentro das suas proprias regras. Ok, deixando de lado a poesia de propaganda de cigarros, TUDO BESTEIRA, os babacas tambem estao aqui, aos montes!

Se voce e novo, jovem, bonito e talentoso torna-se um alvo facil para os parasitas, e ja vivi isso inumeras vezes na minha vida. Existem aqueles que "gentilmente" pegam emprestada a sua "luz", o que considero uma relacao saudavel, outros tentam desesperadamente rouba-la de voce, mas acabam como copias baratas, risiveis, de dar pena (e nem estou sendo cruel, believe me). Os mais perigosos sao aqueles que se incomodam com o seu talento, mas sao cientes das suas proprias limitacoes, e tentam a qualquer custo TE FUDER, no portugues claro e cristalino.

Eu cheguei aqui timido e receptivo, coracao aberto e preparado para as regras de exercito e pressoes do trabalho, e olha que tirei tudo isso de letra! So nao contava com um covil de cobras... Please, tambem encontrei gente OTIMA, que em menos de 1 mes ja se tornaram amigos de uma vida inteira, incrivel!

Fiquei sinceramente impressionado com a cultura mesquinha e primitiva que reina por aqui. O povinho que trabalha comigo faz a mesmissima coisa ha 2, 3, 6 anos, e alguns se acham o maximo por isso, e fazem questao de revirar os olhinhos ou rirem da gente quando cometemos algum erro.

Mamae me mata, mas nao vou fazer o joguinho de ser amiguinho de cobra nao. Nao consegui ser assim ate os 30, entao larquei de mao. Refinei minha tecnica, transmito a mensagem sutilmente, na subliminar, e adoro ver a carinha dos coitados querendo me matar, acho uma delicia!

Para sobreviver aqui sem perder a personalidade e nao virar comida de tubarao tenho que me manter longe dos coitados, engolir sapos, processa-los e depois arrotar bolhinhas de sabao na cara deles, e ser feliz com o que e com quem vale a pena. Alem de ganhar meu dindin, viajar pra caralho e beber muita Marguerita, Pina Colada e afins em aguas caribenhas... Porque eu posso!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mais causos de um marinheiro de sangue quente

Andei escrevendo umas coisas por ai, geralmente no papel mesmo, para depois entao passar para o compu. Pensei e resolvi nao postar nada daquilo, tava parecendo dramalhao mexicano com pitadas de uma auto-ajuda meio negativa e cinica, misturado com Virginia Wolf mais pitadas freudianas de diva furado. Isso aqui nao nos permite muita psicologia ou literatura, basicamente e business, praticidade, e um bando de gente querendo passar por cima da sua cabeca ou desesperada para se afirmar de alguma forma.

Eu tenho que tomar cuidado pra nao julgar as pessoas pelas suas acoes e reacoes, ate porque e preciso levar-se em consideracao a questao cultural, fora o "estrago"que esse tipo de vida acaba fazendo na cabeca de algumas pessoas, geralmente as de personalidade fraca ou sem personalidade. Minha familia me advertiu antes mesmo que eu saisse do Brasil a controlar meu genio, isso porque sabem como me comporto em relacao a injusticas e a gente babaca tentando pisar em mim, basicamente... NAO ADMITO! E algo organico, me faz bem e ponto. No comecinho aqui fiquei de cabeca baixa e engoli os sapos pensando que fazia parte da experiencia, e olha que engoli VARIOS sapos-boi! Passado algum tempo tenho compreendido melhor a sintonia por aqui, e detectei falta de respeito e povinho mediocre de merda querendo dar uma de boss pra cima de moi, ai o sangue ferveu e o bicho deu uma pegada de leve.
Vontade de avancar nao me faltou, mas simplesmente assumi uma postura mais profissional, como nunca antes, alem da lei de "gritou comigo, gritei contigo". Obviamente me esforco ao maximo aqui pra nao perder a razao, mas ontem mesmo tava ajudando uma colega e levei um "move on" aos berros... Quase saltei do elevador pra jogar ela no mar, mas me resumi a segurar a porta do elevador que estava fechando e dizer em alto e bom som "take it easy honey, I'm not your husband or even your friend!"
O negocio aqui e brabeira em alguns aspectos, ate porque voce tem um supervisor que so pensa na grana pra entrar e uma cia excelente, mas que preza pela sua saude fisica, seguranca e seu direito a nao virar carne para piranhas famintas (rigorosas regras contra harassment), mas no final das contas os pormenores sao por sua conta, aqui nao tem crianca, entrou nessa tem que segurar a onda, ou entao desistir. Os brasileiros tem a fama de desistir facil, isso porque nao estao acostumados com o ritmo pesadissimo do trabalho e tambem, geralmente, nao tem a mesma necessidade de outras culturas, como a de sustentar familia back home.
Eu tenho momentos excelentes, mas tambem ja me senti intimidado e assustado, ja me senti um merda, mas nunca me arrependi de ter vindo, de jeito nenhum! Tive a sorte de ter um irmaozao de cabinmate, de encontrar pessoas queridas que hoje sao minhas amigas, e o azar de me deparar com uma equipe de trabalho negativa, com componentes que vao de uma vadia escandalosa que acha que todo homem tem medo dela (tadinha, comigo morreu de fome...), tem uma robo desequilibrada, uma altamente risonha (nao confio em gente que ri toda hora)... Enfim, to bem na fita pra caralho! Rs
Superando minhas dificuldades, me conhecendo melhor, seguindo as regras e administrando minha nova vida da melhor maneira possivel vou levando, aproveitando o tempo que passa muito rapido, e morrendo de saudades dos meus queridos do Brasil.
Vou ficando por aqui, na promessa pessoal de nao virar a cabeca por aqui, mas JAMAIS perdendo meu maior trunfo, ser exatamente quem eu sou.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

No meio de algum lugar em lugar nenhum

Passaram-se 20 dias desde que deixei o Brasil, e fui deixando algum tempo passar antes de escrever alguma coisa, justamente pra evitar uma verborragia insana e dramatica (well, more than the usual... ) de alguem tentando administrar algumas crises num momento de grandes mudancas. Hoje me sinto sereno, passado o medo e a pressa de que tudo acabasse logo para que eu voltasse a minha antiga vida.
Esses dias andei pensando em como e estupido, e perfeitamente humano, querer voltar ao ponto de partida. Quando tudo se mostra tao diferente nossa vontade e fugir e voltar para o nosso lugarzinho "confortavel", para o aconchego dos nossos velhos habitos. E como emprego novo, mesmo quando voce odiava o antigo, quando comeca o novo fica pensando por alguns momentos em como ja estava acostumado com a rotina do antigo.
Estou quebrando um ciclo de anos, assumindo os riscos das MINHAS decisoes, sendo realmente gente grande e dono do meu nariz, como sempre quis. Parece otimo, so nao tinham me avisado que esse percurso e bastante solitario.
Nao vou dramatizar, ate porque nao me sinto assim, mas e impossivel nao pensar que o mar, atualmente meu lar, e uma grande metafora pra tudo isso.
Sinto imensa saudade do Brasil, dos meus papos de mesas de bar e as noitadas com meus grandes e deliciosos amigos, das brigas em casa, da comidinha da vovo, dos papos com minha mae e grande amiga, mas comeco a me acostumar a uma vida tambem cheia de privilegios, o emprego dos sonhos de muita gente. Isso aqui e meio ilha de Lost, voce esta literalmente fora de sintonia com mundo, mas ao mesmo tempo o mundo inteiro esta aqui. Voce perde algumas coisas do mundo "real", mas adiciona outros improvaveis para um vida "normal".
Fico feliz em perceber que os motivos de comecar a escrever aqui, minhas trapalhadas amorosas e dificuldades em me encaixar no mundo tornaram-se pequenos e distantes. Aqui, ou voce rema ou afunda, nao existe meio-termo. Excessiva disciplina, mas absoluta liberdade.
Bom, melhor do eu esperava, mas mais dificil tambem... E quem foi que disse que eu queria diferente?

20 dias atras

Sentado numa poltrona apertada de um voo da American Airlines, ao lado de um professor universitario de quase 2m de altura (sim, ele puxou assunto, mas logo cortei, nao era meu mood), vou repassando sem maiores comprometimentos os ultimos eventos que me permitiram chegar a essa viagem. Tudo aconteceu tao rapido que estranho minha frieza, a dificuldade pra "deixar a ficha cair". Me sinto simplesmente seguro, sem maiores medos ou coisas do genero. Tenho certeza que nao e um prenuncio da minha habitual arrogancia, e estranho constatar que estou pronto para isso, e so. Logico que preparei tudo minuciosamente, repassei passos e pesquisei. Enfim, o Polaramine que tomei pra dormir bateu, entao ate mais.
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Ja passei pela fria e nada amistosa recepcao da alfandega americana, testemunhei um rapaz mexicano sendo "gentilmente" deportado, dei meu pulinho no Starbucks, giros em free shops e agora to sentadinho esperando o voo da conexao. By the way, estou em Miami indo pra Baltimore.
Gostoso ligar pra casa e falar com minha avo. Antes de viajar dei uma fuxicada no orkut do irmao de um amigo meu. Tinha uma foto dele de frente pra uma praia lindissima, nao sei aonde, mas com a legenda "Solidao e Liberdade". Acho que essa minha jornada tem um pouco disso ai, conhecer mais de mim mesmo sem todo o "staff" que sempre me rodeou.
Sim, eu desci do aviao pensando "Caraca, sera que e isso mesmo?"
Amanha conheco minha nova casa pelos proximos 6 meses, longe dos meus irmaos, mommy, grandma e amigos, e tudo que e familiar pra mim.
Ao mesmo tempo em que toda minha "bagagem" e o que me ajudara a sobreviver por aqui, tive que zerar tudo, vir pra ca sem rotulos, sem conhecidos, sem familiares.
Dando um tempo no drama, to adorando. Estou pisando num degrau que era pra ser meu faz tempo, agora chegou a hora.
ps. Maldito teclado americano!!